Artistas

Zahỳ Tentehar

Colônia, Reserva Indígena Cana Brava, MA, 1989

Ecos de temporalidades distintas ressoam por paisagens híbridas, resgatando a inteligência e a magia de um passado urgente para nos guiar por um futuro incerto. Na justaposição da mata original e das novas engrenagens de metal, as linhas invisíveis de força tornam-se presenças palpáveis, moldando os espaços e corpos que os habitam.

O trabalho de Zahỳ Tentehar é centrado na produção teatral e audiovisual, e fundamenta-se em suas raízes na Terra Indígena Cana Brava. Suas obras utilizam o corpo como matéria-prima elástica e flexível, compreendendo a dramaturgia e a performance como tecnologias indígenas. Em sua poética, aborda a vida como uma grande encenação, na qual somos todos autores, diretores e atores de nossas histórias. Inspirada pela “Poética do Oprimido”, de Augusto Boal, ela vê cada indivíduo como um “espect-ator” — alguém que simultaneamente age e observa, capaz de se emocionar com pensamentos e refletir sobre emoções. Em suas criações, a artista investiga a capacidade humana de criar e negociar verdades, construindo máscaras sociais que são, ao mesmo tempo, coerentes e contraditórias, dentro das normas comportamentais. Embora reconheça a opressão estruturante imposta pela sociedade do capital, Zahỳ Tentehar trabalha com a visão de que não estamos fatalmente definidos por seus desígnios. Como atriz e autora, ela busca transformar e transcender essas imposições, conectando-se a sua ancestralidade e aos movimentos de resistência que a cercam. Ao utilizar o teatro e o vídeo para ressignificar tradições, sua prática artística reflete a força histórica e a adaptação cultural dos povos indígenas diante das tramas complexas da modernidade e das inexoráveis transformações planetárias.

No 38º Panorama, Zahỳ Tentehar apresenta sua pesquisa mais recente, que desarma — por meio de uma forte visualidade e simbolismos marcantes, mas também de modo sensorial — a noção fixa que existe da tecnologia. A videoperformance intitulada Máquina ancestral: Ureipy (2023) é construída em dois canais, com a justaposição de duas dimensões opostas, nas quais uma mesma figura vive uma série de atos em busca da compreensão de sua natureza. Nessa ficção científica, uma entidade robótica solitária habita, a um só tempo, duas realidades: uma ancestral, em meio a um cenário ruinoso, e outra ligada à civilização tecnocrata, em um ambiente laboratorial. Em vez de oferecer respostas definitivas, a obra envolve o público em uma experiência sensorial que subverte percepções comuns e tateia os atravessamentos entre ancestralidade, humanidade e tecnologia. No lugar de um destino único e fatal, a artista aventa um futuro plural e suas múltiplas possibilidades vitais.

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(1-5) Máquina ancestral: Ureipy, 2023, vídeo bicanal, 11’, sonoro. Coleção da artista

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