Artistas

Tropa do Gurilouko

Criado no Rio de Janeiro, RJ, 2023

O estrondo de fogos nos céus e bexigas estalando no asfalto anunciam a saída apoteótica. As ruas em ebulição transbordam de temor e fascínio diante do grupo de gorilas enormes portando seus estandartes. O barulho é alto, e a festa não pede passagem, impondo-se com ritmo próprio, elevando as temperaturas para transformar a vida.

A Tropa do Gurilouko é uma turma de “bate-bolas” criada em 2023, quando uma brincadeira informal entre amigos ganhou corpo e ímpeto, explodindo em potência e popularidade. O “bate-bola”, também conhecido como “clóvis”, é um personagem clássico do Carnaval do Rio de Janeiro, caracterizado por trajes avolumados e coloridos, composto por uma roupa bufante, máscara, luva e sua marca registrada: uma bola de borracha ou de plástico presa por uma corda à extremidade de um bastão, usada para bater no chão. É o som forte e característico dessa batida que dá nome e anuncia a aparição do “bate-bola”, uma figura que tanto apavora quanto diverte. Sua criação vem da releitura de tradições europeias durante a Folia de Reis, e teve raízes fincadas durante as décadas de 1930 e 1940, sobretudo nas zonas norte e oeste do Rio e na Baixada Fluminense. Com o tempo, as turmas passaram a criar narrativas para cada saída e a se identificar por cores, estampas e acessórios específicos — como bexigas, bandeiras, sombrinhas e bichos de pelúcias —, além de hinos autorais. Entre os temas que emergiram estão figuras históricas, celebridades, super-heróis, personagens de filmes, desenhos animados, animes, monstros, animais, entre outros. Com a evolução da tradição, seja por criatividade ou necessidade, o modelo clássico do “clóvis” também deu lugar a trajes que encarnam outras figuras, como bruxas e gorilas.

É nesse contexto cultural, altamente territorializado, que surge a Tropa do Gurilouko no bairro carioca de Campo Grande. O grupo injeta nova energia na tradição dos “bate-bolas”, reafirmando seu vigor e inventividade estética. Na fusão de duas figuras clássicas do Carnaval, o “bate-bola” e o gorila, a Tropa do Gurilouko marca forte os aspectos do seu universo local. A cor e os acessórios de sua fantasia variam a cada ano, de modo que cada saída se torna única. O conjunto de calça e casaco demanda pelo menos 15 mil sacolas cortadas em fitas para ganhar suas proporções imponentes, e é complementado por uma máscara com olhos que acendem e a tradicional bexiga presa a um bastão. Os muitos meses de dedicação árdua culminam num intenso espetáculo. Ao abrir a porteira da casa em que se concentram, a saída do grupo eclode uma energia indizível, sob rojões, fumaças, cascatas de luz, rugidos e lapadas no chão, gritaria e gargalhadas. O bando em alvoroço encarna sua missão brincante, jogando com o poder da coesão coletiva, do anonimato individual e do personagem característico. A turma borra a linha entre o terror e a diversão, e conjuga a doçura da infância e a dureza da vida adulta para criar um momento de êxtase coletivo. O furor que trazem consigo é a melhor mistura do mistério, da fantasia e do júbilo que definem o espírito do Carnaval.

A Tropa do Gurilouko marca sua presença no 38º Panorama com uma saída da turma por São Paulo, nas imediações do MAC USP e do Parque Ibirapuera. As vestimentas trazem a representação de um gorila de grande porte com seu “pelo” amarelo vibrante, tributo a um membro da Tropa falecido no ano anterior, que, em seu último Carnaval, estava vestido nessa cor. Já a saída busca criar uma aparição especial da turma em outra cidade e território cultural, e numa data descolada do Carnaval, sublinhando a força universal da performance do grupo.

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(1-8) Saída da Tropa do Gurilouko no MAC USP, 2024, performance. Coleção Tropa do Gurilouko

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