Artistas

Sallisa Rosa

Goiânia, GO, 1986

O chão sobe para ganhar formas pelas mãos de quem semeia, cuida, molda e dá contorno às memórias, fazendo girar num só torno os calores da alma, os pontos de resistência e as visões de futuro.

O trabalho de Sallisa Rosa é um exercício contínuo de vínculos com a terra e os territórios. Por meio de esculturas, instalações, performances, fotografias e vídeos, a artista dá vazão a experiências intuitivas que registram acontecimentos, firmam identidades e elaboram ficções sobre os fenômenos naturais e as relações sociais a partir de suas raízes na região Centro-Oeste. Como gesto ético e estético, sua prática afirma o compromisso com dinâmicas de compartilhamento e construções coletivas, tateando um campo de experiências que transcende agências individuais. O solo é matéria-prima e metáfora recorrente, de modo que sua produção muitas vezes se manifesta em peças e instalações marcadas pela cerâmica. Seu interesse é pela energia que vem do chão, pelos processos tradicionais envolvendo os quatro elementos e pelas compreensões sobre o tempo que percorrem esse manejo da matéria. Nesse sentido, a artista molda um punhado de terra não apenas com a intenção escultórica da forma, mas na busca pela conexão tátil com o telúrico, como portal espiritual para outras dimensões e temporalidades.

Sallisa Rosa apresenta no 38º Panorama um conjunto de esferas cerâmicas com marcações gráficas feitas com óxido de ferro. Nessa série, o conceito de “veneno” ganha um papel central sob diversos pontos de vista. A construção desses objetos se relaciona com ideias ligadas aos processos de envenenamento oriundos de traumas coloniais, atividades extrativistas, de manejo do solo e experiências pessoais. Nesse sentido, cada peça é um corpo cerâmico que representa uma expurgação de toxicidades e carrega, portanto, uma escarificação, ou uma cicatriz gravada como um testemunho da intoxicação passada, mas sobretudo dos caminhos orgânicos percorridos pelo tratamento, o antídoto e suas doses de cura.

1/9

(1-9) Veneno, 2023, óxido de ferro sobre cerâmica, ⌀ 25 cm cada. Cortesia da artista e A Gentil Carioca


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