Artistas

Rebeca Carapiá

Salvador, BA, 1988

Pronunciar o ferro: contorcer o elemento rígido para emanar sua vibração metálica no ar. Essa força que transforma energia em movimento e o metal em sentido faz ranger as estruturas, como uma broca que cria novas fissuras no mundo como o conhecemos.

Rebeca Carapiá é uma ferreira-desenhista, uma escritora de formas cuja obra se funda no manejo singular do ferro, matéria-prima usada para criar contornos orgânicos que evocam caligrafias abstratas e signos enigmáticos, densos e reluzentes. Em sua prática, a artista tece narrativas que emergem na tensão entre a brutalidade e a maleabilidade do material, criando obras que são tanto danças livres quanto inscrições de histórias enraizadas na Cidade Baixa de Salvador e de experiências subjetivas da artista. Suas esculturas coreográficas e telas abstratas são um diálogo contínuo entre corpo, linguagem e território, recusando a representação compulsória e as categorizações simplificadas. Placas e vergalhões são transmutados em linhas fluidas, revelando um idioma corporal que transita entre o prazer e o labor, manifestando uma poesia que liberta a essência do ferro da sua condição física para que possa se desdobrar em múltiplas dimensões.

No 38º Panorama, Rebeca Carapiá apresenta uma grande peça comissionada para a exposição, que remete tanto a uma escrita urbana quanto a códigos de outros tempos. Sua escultura de aço e cobre forma um texto carregado de força e significado, mas cujo acesso se dá além das fronteiras daquilo que pode ser facilmente decifrado. A peça, magnética e sinuosa, convida o observador a percorrer um labirinto de sentidos intrincados que se anunciam a partir da aproximação e do envolvimento sensível. Sua gramática singular articula, a um só tempo, materialidade e mistério, flutuação e gravidade, discurso e rasura, austeridade e transcendência, firmando um modo autônomo de inserção no mundo.

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(1-5) Flutuantes, 2024, ferro e cobre retorcidos, 225 x 305 x 155 cm. Coleção da artista

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