Artistas

Paulo Nimer Pjota

São José do Rio Preto, SP, 1988

Em meio a manchas de cor e calor, rodopiam clichês universais e rabiscos regionais, tradições clássicas e vernaculares, arte erudita e desenho animado, máscaras e vasos, armas e monstros, tesão e assombro, tensão e festejo. Tudo junto e ao mesmo tempo, num só plano de ação, tecendo fábulas globais, numa mistura anárquica entre a dureza do mundo e o livre-arbítrio da imaginação.

O trabalho de Paulo Nimer Pjota assimila fenômenos coletivos que ultrapassam limites temporais e geográficos, sublinhando, por vias esquisitas e caóticas, a universalidade da experiência humana. Suas obras nascem de reproduções e mixagens de informações diversas, como um músico que usa samples e beats para compor suas rimas. Seu repertório simbólico inclui elementos da vida orgânica, das mitologias, dos discursos sociais e da cultura material dos cinco continentes, indo da Antiguidade ao universo pop e à cultura de massa, dos cânones da arte às manifestações da rua e às banalidades cotidianas. Com base nessa ampla pesquisa iconográfica, o artista transpõe, sobrepõe e rearranja imagens que revelam, como evidências arqueológicas, o processo amalgamante e transcendental que forja culturas singulares, mas sempre interligadas. Entre a aleatoriedade dos arranjos e uma meticulosa prática pictórica, vão surgindo composições intensas, sempre com uma base energética marcada por grandes campos de cor, nos quais uma constelação de corpos suspensos aparece como fantasmagorias da história. Em cada nova composição, Paulo Nimer Pjota elabora a natureza desses códigos informacionais operados por infinitos sujeitos, que vão percorrendo os séculos, se transformando e acumulando novos significados. Por meio do ritmo e da repetição, o artista orquestra a reprodução desses signos para investigar os mecanismos que os originam e os difundem na era da ultracomunicação. Como instantes suspensos num grande fluxo de consciência, cada obra é um disparador de memórias, sensações e estados psicológicos. Em comum, seus trabalhos afirmam uma política da contaminação e uma visão espiritual pautada pela noção de contínua transformação, em que tudo vai e volta num grande fluxo cósmico.

No 38º Panorama, Paulo Nimer Pjota apresenta uma obra inédita, feita especificamente para a exposição. Em cinco telas, o artista cria um gigantesco mar de chamas atravessado por raios de sol difusos, em que animais e seres fantásticos se misturam a lendas e tradições da natureza-morta de diferentes culturas, numa fusão quente e extasiante. O cenário onírico — inspirado em contos que assombravam navegadores medievais — propõe um paradoxo entre a ativação de uma alta temperatura e um recorte oceânico, num jogo de reiteração e variação que convida a uma examinação minuciosa, revelando detalhes fascinantes em meio ao fogo líquido que toma conta de tudo.

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(1-3) Vistas da exposição

(4-5) Carta marinha com salamandra, 2024, óleo, têmpera e acrílica sobre tela, 206 x 160 cm. Cortesia do artista e Mendes Wood DM. Foto: Gui Gomes

(6-7) Carta marinha com fauno, 2024, óleo, têmpera e acrílica sobre tela, 206 x 161 cm. Cortesia do artista e Mendes Wood DM. Foto: Gui Gomes

(8-9) Carta marinha e a batalha real, 2024, óleo, têmpera e acrílica sobre tela, 206 x 160 cm. Cortesia do artista e Mendes Wood DM. Foto: Gui Gomes

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