Artistas

Marcus Deusdedit

Belo Horizonte, MG, 1997

A tensão entre forças objetuais e fantasmáticas desencadeia a reestruturação de espaços. Deslocamentos, cruzamentos e justaposições febris que sacodem o olhar, abrindo fendas nas estruturas que sustentam regimes de visibilidade, imaginação e poder. 

A pesquisa de Marcus Deusdedit utiliza o remix como ferramenta de imaginação radical para propor reconfigurações e deslocamentos de códigos conhecidos. O artista processa informações de fontes diversas — como arquivos pessoais, elementos do consumo de massa e imagens da internet — para infundir os campos da arquitetura e do design com o pensamento e a estética oriundos de contextos periféricos, abordando o entrelaçamento entre raça e os limites arbitrários entre valorações culturais. Por meio da justaposição de imagens e materialidades de naturezas diversas, e da recontextualização de signos e objetos, o artista cria fricções no tecido estético que compõe o imaginário social. Suas colagens, objetos, vídeos e instalações multimídias ligam os fios entre os campos da estética, política e funcionalidade, refletindo sobre como as imagens e objetos que produzimos moldam nossa percepção do mundo e afirmam ou apagam subjetividades. Em seu trabalho, objetos comuns podem se converter em instrumentos para discussões históricas e metafísicas, ícones modernistas podem ser infundidos por dinâmicas da cultura de massa, e memórias pessoais e familiares podem ensejar sonoridades e espaços de submersão. Seu trabalho questiona as dinâmicas de poder e de visibilidade na era da superinformação, em que as culturas periféricas começam a ocupar um papel essencial na formação do núcleo cultural brasileiro, apesar da manutenção das desigualdades estruturais. Nesse sentido, os trabalhos de Marcus Deusdedit sublinham, por meio de dribles conceituais e acoplamentos materiais, o contraste entre a fluidez das ideias e a rigidez das estruturas, propondo uma reflexão crítica sobre a formação do tecido sensível da sociedade contemporânea.      

Para o 38º Panorama, Marcus Deusdedit apresenta uma obra comissionada que desdobra sua investigação sobre a edição de objetos, reformulando um equipamento de exercício físico para discutir questões sociais e políticas. Essa estação de musculação reconfigurada é posta em diálogo com um vídeo no qual enxergamos uma figura humana digital e idealizada, criando um paralelo entre a arquitetura brutalista — com seu uso de volume e massa para projetar imagens de poder — e processos de hipertrofia muscular. Nesse sentido, a obra questiona a performatividade demandada do corpo negro em detrimento da possibilidade do exercício de um pensamento abstrato, sublinhando a tensão sistêmica entre esses pontos no balanço complexo entre as cargas e polias. 

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(1-8) Sem título, da série Performance, 2024, aço carbono, cintas catracas, modelagem 3D e animação digital. Coleção do artista


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