Artistas

Lucas Arruda

São Paulo, SP, 1983

A difusão de luz dá vazão à energia intangível que arquiteta as fundações do mundo. Os movimentos da claridade riscam um horizonte movediço, do qual emergem sensações e estados mentais que sublinham a natureza indefinida e transitória da vida.

A obra de Lucas Arruda é um exercício contínuo sobre as experiências em torno da paisagem, de maneira que investiga as qualidades formais de certas visões terrenas e suas ligações com exercícios mentais e estados de espírito. No entanto, suas pinturas não são representações de lugares do mundo que possamos localizar no mapa. Em suas mãos, o tema da paisagem, tão antigo quanto a história da arte, é transformado em fantasmagoria, como modo de refletir sobre o fato de que enxergamos pela mediação da luz, e de instigar nossas faculdades oculares e extrassensíveis. Nevoeiros, inícios e fins de dia, cenas marítimas, matas em movimento e campos cromáticos abstratos são temas recorrentes nas suas obras, revelados sempre com uma profundidade dinâmica. A suspensão temporal e o aspecto efêmero e impreciso desses cenários ajudam a compreender o paradoxo existencial entre a nostalgia melancólica e a vontade de revelação. Em comum, suas pinturas trazem uma densidade energética, uma alta carga atmosférica e um encanto magnético que abocanha e submerge o espectador num episódio delirante e esfumado, evidenciando as relações intrincadas entre o que se vê e o que se sente.

A participação do artista no 38º Panorama inclui nove pinturas, numa constelação que oferece uma visão panorâmica mas também injeta novo vigor em sua obra. Apresentados numa espécie de ermida, os trabalhos convidam o visitante a acessar seus mistérios interiores por meio da contemplação ativa. No lado de fora desse recanto, duas matas tropicais agitadas guardam as entradas do lugar. Seu segredo é simbolizado por uma imagem de alta densidade entre as florestas, construída entre a paisagem de um horizonte, o fenômeno astronômico e a experiência espiritual. No interior, a natureza mística do espaço é sublinhada uma pintura vertical de grande formato — algo visto apenas uma vez em sua produção — que toma o centro com uma composição de figuração mínima e amplos campos de cor, trazendo em seu núcleo um astro flamejante rodeado por fenômenos meteorológicos, estruturas arquitetônicas e elementos simbólicos. Em uma das laterais, uma grande pintura monocromática convida ao mergulho num verde profundo, como um sorvedouro por onde correm sensações e sentidos. Na outra, uma dupla de pinturas reformulam paisagens a partir de uma abordagem metafísica, combinando questões matéricas com abstrações. Como conjunto, dizem respeito a um calor primordial, cuja ativação pode iniciar processos de transformações físicas e subjetivas.

1/17

(1-8) Vistas da exposição

(9) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2013, óleo sobre tela, 30 x 30 cm. Coleção do artista


(10) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2022, óleo sobre tela, 30 x 37 cm. Coleção do artista

(11) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 30 x 30 cm. Coleção particular

(12) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 80 x 96 cm. Coleção do artista


(13) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 20 x 20 cm. Coleção do artista


(14) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 21 x 24,5 cm. Coleção do artista

(15) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 185 x 140 cm. Coleção do artista

(16) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2024, óleo sobre tela, 20 x 26 cm. Coleção do artista

(17) Sem título, da série Deserto-Modelo, 2022, óleo sobre tela, 24 x 30 cm. Coleção do artista

PT
EN