Belém, PA, 1995 / Manaus, AM, 1994
Os calores que emergem das profundezas da terra irrompem como magia nas matas e nos rios, como o alento que alimenta e movimenta, dando forma, sustentando e transformando todos os corpos.
Labō e Rafaela Kennedy desenvolvem seus trabalhos em profunda conexão com os elementos naturais e culturais de suas cidades de origem, Belém e Manaus, respectivamente. As artistas tecem narrativas visuais a partir do contato íntimo com matérias orgânicas das matas e rios, do diálogo com tradições orais e das experiências em cenários urbanos eletrizantes. Suas criações conjuntas, frequentemente materializadas em fotografias, utilizam as paisagens locais como cenários para momentos de emancipação de corpos híbridos, dissidentes, não normativos e ligados a outras dimensões. Nesse sentido, suas obras contrapõem-se a noções fixas relacionadas à ecologia e à tecnologia, performances de gênero, relações interespécies e a intersecção entre a matéria da terra e o plano espiritual. Labō parte de sua ligação com a cultura amazônica e a transmissão de saberes ancestrais para empregar técnicas inventivas no manejo de materiais ribeirinhos, ressignificando elementos terrenos em indumentárias, aparatos, esculturas e instalações de rara força visual. Rafaela, por sua vez, foca sua prática na fotografia, costurando narrativas entre o documental e o fabulado, o espontâneo e o encenado, para produzir uma visualidade carregada de emoção e sentido. As vestimentas que aparecem em seus trabalhos, confeccionadas a partir de materiais colhidos — como palhas, sementes e plantas — ou ligadas a atividades locais — como tecidos naturais e cordas — desempenham um papel crucial nesse processo criativo, transcendendo a moda para se tornarem ferramentas de novas ficções e parte essencial da narrativa visual. Nas obras da dupla, elementos do cotidiano fundem-se com o extraordinário, de modo que aspectos míticos, ora dirigidos pelas artistas, ora encontrados espontaneamente no dia a dia, ecoam em suas invenções. Por meio do enlace entre o uso de matéria orgânica, a efervescência da cena LGBTQIA+ e as influências de mitologias locais, a dupla cria imagens com alta carga visual, imbuídas não só de forças telúricas, mas também de magia e mistério, discutindo como nos transformamos para expressar nossas subjetividades.
Para o 38º Panorama, Labō e Rafaela Kennedy apresentam uma série de fotografias que mergulham no entrelaçamento entre fenômenos naturais e cenários urbanos do Norte do Brasil. As imagens, povoadas por figuras extraordinárias com armaduras naturais que reconfiguram o corpo, criam narrativas visuais que sublinham a capacidade de transmutação da vida no planeta e sua relação intrínseca com seres de outras dimensões. Nesse caldo imagético quente, o que é mais material revela o intangível, assim como o que é mais antigo junta-se às transformações vertiginosas da condição contemporânea. Nesse sentido, essas imagens-talismãs invocam forças de outros tempos e dimensões para repensar nosso lugar no agora e projetar possíveis futuros.
(1-2) Vistas da exposição
(3) Amoré, 2023, fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Photo Rag 308 g/m², 105 x 70 cm. Coleção das artistas
(4) Sem título, 2024, fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Photo Rag 308 g/m², 105 x 70 cm. Coleção das artistas
(5) Sem título, da série Rebojo, 2024, fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Photo Rag 308 g/m², 105 x 70 cm. Coleção das artistas
(6) Sem título, 2024, fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Photo Rag 308 g/m², 105 x 70 cm. Coleção das artistas
(7) Sem título, 2024, fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Photo Rag 308 g/m², 105 x 70 cm. Coleção das artistas