Artistas

Jonas Van & Juno B

Fortaleza, CE, 1989 / 1982

Uma ave mística voa veloz, cortando o céu. Seu brilho é capaz de cegar os olhos e sua irradiação transforma tudo que toca. A luz manifesta-se em velocidade máxima, maquinando viagens antes impossíveis, criando portais energéticos ainda não vislumbrados, ensejando profundas metamorfoses.

Jonas Van e Juno B. são artistas que há algum tempo colaboram como dupla, navegando nas interseções e complementaridades entre suas práticas, marcadamente seus interesses sobre processos de transformação radical. Por meio de vídeos, objetos e instalações imersivas, o duo trabalha nas fronteiras entre pensamento crítico, fabulação, espiritualidade e o manejo da matéria, investigando o fenômeno da transmutação e as possibilidades existenciais ligadas à reinvenção do corpo. Jonas Van, influenciado pela teoria crítica e pela prática da ficção especulativa, utiliza elementos minerais e imaginários de monstruosidade. Sua obra cria narrativas íntimas que exploram descontinuidades fisiológicas, linguísticas e temporais, sempre a partir de uma perspectiva de ruptura com configurações estabelecidas. Juno B. se orienta por mutações e transgressões que movimentam paisagens adaptativas, desafiam a fixidez dos gêneros e tensionam os limites entre a estética, a ética e a política. Com o objetivo de driblar as matrizes racionais que regulam a vida, sua prática se vale da apropriação de objetos e mixagens materiais para provocar sensações específicas e deslocar percepções, num exercício contra-hegemônico que abraça as complexidades da condição biológica na era pós-industrial. Juntos, os artistas cruzam dimensões físicas e fenômenos extraterrenos para propor sínteses conceituais destiladas em narrativas que instrumentalizam o extraordinário para sublinhar o que nos é profundamente comum.

No 38º Panorama, a colaboração entre Jonas Van e Juno B. resultou na videoinstalação imersiva Visage (2024), uma experiência ambiental envolvente que combina esculturas e mobiliários feitos com peças automobilísticas, luz, som e vídeo. A obra propõe um jogo entre o cinema drive-in e a alegoria do carro como máquina do tempo. E reimagina o mito do “Pavão Mysteriozo” — figura lendária da cultura popular do Nordeste brasileiro — como um ser capaz de voar na velocidade da luz e se tornar visível para aqueles em avançado processo de transição, cujas percepções temporais não seguem a linearidade convencional. Inspirado na tradição do cordel e em diálogos com a escritora Octavia E. Butler, essa obra de ficção científica tece conexões entre linguagem, trauma e temporalidade, propondo uma viagem espiritual pelas fissuras do tempo-espaço, de modo que o corpo cede lugar ao espírito para engendrar deslocamentos transdimensionais. A jornada transpassa paisagens morfológicas e topografias imateriais entre geleira, vulcão e terreno arenoso, introduzindo novas perspectivas sobre magia, sonho e as possibilidades de existência além dos limites conhecidos.

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(1-13) Visage, 2024, videoinstalação — vídeo, 15’, colorido, sonoro, vídeo. Financiado por Pro Helvetia. Coleção dos artistas


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