Artistas

Jayme Fygura

Cruz das Almas, BA, 1951 – Salvador, BA, 2023

Sob o sol quente de Salvador, a aparição de uma figura mascarada nas ruas atravessa a memória e o espírito da cidade. Paramentado com sua armadura metálica indizível, ele faz barulho por onde anda, reluzindo a cada passo, incorporando o assombro da vida, embaralhando os limites entre corpo e contexto, entre arte e vida.

A prática radical de Jayme Fygura é forjada na mistura entre a espiritualidade dos Orixás e a brutalidade do contexto urbano. Sua obra combina a tradição da escultura em metal, da poesia marginal, do rock e de outras forças para gerar uma obra densa, pesada, cuja gravidade responde com força e fervor às opressões e violências cotidianas. Escultor, pintor, performer e músico, Jayme Fygura jamais foi visto sem máscara, e ficou célebre, sobretudo, por suas “vestes” hiperbólicas, indumentárias complexas que amalgamam uma série de materiais. Ao não revelar seu rosto, o artista pôde criar outras imagens para sua identidade, elaborando a própria mutação e abraçando a potência e as contradições de sua efígie. Com esses exoesqueletos existenciais que usava como se fossem uma continuação de seu corpo, Jayme Fygura ganhava as ruas, arrancando olhares consternados e curiosos, desenhando coreografias pelos becos, transformando a paisagem a partir de sua escala. Suas esculturas e pinturas incorporaram como temas os próprios capacetes, couraças, botas e tridentes, mas também entidades e criaturas de outras dimensões, livres abstrações, símbolos universais e sínteses da natureza orgânica do Brasil.

Desencarnado durante a concepção do 38º Panorama, Jayme Fygura é o único artista da mostra que não está vivo. Sua participação na exposição faz uma homenagem a sua força e contribuição artística singular para a história da arte brasileira. A apresentação de seu trabalho, sintética e densa, dá testemunho de seu profundo legado por meio de três pinturas a óleo e objetos característicos de suas vestes de metal. O grupo de obras sublinha aspectos centrais do imaginário que o circundava: capacetes pontiagudos, um tridente e figuras explosivas, ligadas ao fogo e à transformação matérica e espiritual.

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(1-2) Vistas da exposição

(3) Sem título, 2023, óleo sobre tela, 100 x 100 cm. Acervo Galatea

(4) Sem título, 2023, óleo sobre tela, 100 x 100 cm. Acervo Galatea

(5) Sem título, 2023, óleo sobre tela, 100 x 100 cm. Acervo Galatea

(6) Exu, data não identificada, objeto em ferro, I: 98 x 55 x 38 cm, II: 178 x 35 x 5 cm. Coleção Paulo Darzé Galeria


(7) Exu, data não identificada, objeto em ferro, 88 x 83 x 110 cm. Coleção Paulo Darzé Galeria


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