Artistas

Gabriel Massan

Nilópolis, RJ, 1996

Seres indecifráveis habitam cenários vibrantes. Luzes ofuscantes, cores ácidas e tons metálicos compõem céus e chãos em plena transformação. Nesses terrenos surreais — um pouco mundanos e muito alienígenas —, tudo parece distorcer, derreter e se recompor o tempo todo, emanando o potencial das formas de vida numa ecologia extraordinária.

Com uma estética singular, que envolve formas fluidas, uma paleta explosiva e criaturas estranhas — formas de vida digitais, chamadas de “esculturas-atrizes” —, a prática de Gabriel Massan é focada na criação de imagens e jogos 3-D, e instalações e objetos relacionados às tecnologias computacionais. Em suas composições, ideias ganham formas estranhas, fazendo emergir figuras zooantropomórficas — meio gente, meio bicho — integradas a paisagens liquefeitas, de texturas intrincadas, ultracoloridas e ardentes. Suas criações baseiam-se em métodos ligados ao que ele chama de “arqueologia ficcional”, combinando a análise de artefatos, documentos e episódios históricos com especulação e fabulação. A essa base conceitual e teórica, o artista alia técnicas de construção de mundo e contação de histórias no campo digital. Por meio de ambientes, dinâmicas e narrativas que extrapolam fatos reais, suas obras mergulham o público em conjunturas fictícias que recontextualizam certos locais, episódios e objetos, discutindo suas implicações socioculturais e propondo visões críticas sobre o passado, o presente e o futuro. Nesse sentido, seu trabalho propõe experiências — muitas vezes interativas — que lidam com temas como identidade e emancipação em contextos de opressões estruturais. Por meio de uma abordagem a que ele se refere como “alteridade subversiva”, o artista afirma a diferença não como base para a exclusão, mas como chave para acessar novas compreensões sobre os problemas estruturais do mundo. Suas sínteses visuais, fascinantes e ambíguas, operam como dispositivos para driblar preconcepções enrijecidas e discursos dominantes, trazendo à tona, de modo inventivo, perspectivas tradicionalmente apagadas e marginalizadas.

No 38° Panorama, Gabriel Massan apresenta um novo desdobramento de sua obra Baile do terror (2024), que traça um paralelo entre a escalada de tensões e violências em âmbito global e os traumas da brutalidade mortífera operada pela “guerra às drogas” no eixo Rio-São Paulo. Nesse sentido, os fundamentos do trabalho são atravessados por suas vivências na Baixada Fluminense, onde nasceu e cresceu, e suas experiências como imigrante, desde que se mudou para Berlim, na Alemanha, em 2020. Desenvolvida especificamente para a exposição, a instalação multiperspectiva é composta por telas de projeção, alto-falantes, luzes e mobiliário escultórico. Seu caráter imersivo reforça a cosmologia e os conceitos comuns na prática do artista, oferecendo uma situação de deslocamento sensorial e servindo como instrumento para questionar paradigmas coloniais e concepções distorcidas sobre o chamado “Terceiro Mundo”, e sublinhar a força da imaginação para afirmar outras formas de vida possíveis.

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(1-14) Baile do terror, 2024, videoinstalação — vídeos multicanal sonoros e coloridos, 07’56’’ | 04’11’’ | 04’25’’ | 05’25’’. Coleção do artista

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